Recuperação da economia brasileira ainda vai demorar

 
Fabio Silveira


É ilusório imaginar que a reforma da previdência tem o condão de religar automaticamente os motores do crescimento econômico. A aprovação de seu texto pelo Congresso Nacional apenas evitará que a estagnação atual se prolongue indefinidamente. Após a superação dessa etapa árdua, em que se busca definir um horizonte crível de menor desequilíbrio para as contas previdenciárias, será necessário que o país realize outra grande obra: a reforma tributária.
Isto porque, sem esse redesenho dos impostos, o Brasil não poderá dispor no futuro de um sistema de produção: a) mais competitivo no plano externo, já que o atual é muito restrito à exportação de commodities e quasi-commodities; e b) menos vulnerável no âmbito doméstico, capaz de concorrer em melhores condições com as importações.
Aliás, o acirramento da competição com importados é um evento inescapável para a economia brasileira nos anos vindouros, dada a tendência tanto de oferta global crescente de produtos asiáticos, como de ingresso progressivo de industrializados e serviços europeus, na esteira do recém-assinado acordo entre Mercosul e União Europeia.
Como não há, até o momento, boas e acabadas respostas de como será o processo de elevação da competitividade, que inclui a realização da reforma tributária e de outros avanços econômicos e institucionais, o país continua colecionando motivos que reforçam o panorama de crescimento lento e afluência contida dos negócios no horizonte de seis a doze meses.
A forte nebulosidade que paira sobre 2020 deriva não apenas dos fatores mencionados acima, mas também de outras causas, cujas raízes são profundas e relativamente antigas. Uma delas é o baixo apetite ao risco dos investidores, ou seja, dos agentes mobilizadores de recursos destinados à expansão ou modernização do sistema produtivo local, como atesta o fato de que, nos últimos 24 trimestres, somente em 8 desses períodos houve aumento das inversões e, ainda assim, de forma modesta.
Em outras palavras, o Brasil mostra pouco ímpeto para investir desde 2013, o que, do ponto de vista analítico, constitui um enigma que deve logo ser decifrado, sob risco de se arcar depois com um custo social muito elevado, advindo da insistência em políticas públicas eventualmente equivocadas, geradoras de resultados econômicos pífios.
Outra justificativa da fragilização da economia brasileira remonta também à 2013, quando ficou patente que o ciclo de valorização das commodities, iniciado em 2003, havia se esgotado; e que seria essencial repensar o modelo de sucesso para um país largamente dependente da produção de matérias-primas e bens intermediários. Até o momento, tal questão possui respostas pouco convincentes, devendo se tornar ainda mais complexa, visto que a economia global conhece , hoje, importante ajuste, provocado pela desaceleração sincronizada de EUA, China e Europa, que tende a manter os preços internacionais das commodities sob pressão baixista.
Nessas condições, enquanto não se faz luz entre os gestores públicos locais acerca do melhor caminho a ser perseguido para a saída da crise atual, convém aos atores econômicos e institucionais adotar estratégias defensivas, de modo a preservar participações de mercado e papéis exercidos na esfera privada e pública, o que implica na manutenção de nível mínimo de investimento e busca constante por novos negócios.