Produção de carros só deve deslanchar em 2020


Entrevista de Fabio Silveira para o Portal Varejo Em Dia.


O setor automotivo, um dos mais importantes do país, deve recuperar somente em 2020 o ritmo de crescimento verificado em 2017, ano em que a produção de veículos teve expansão de 25,2%, depois de amargar uma crise que durou três anos.

A análise é do economista Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, que reviu a projeção de crescimento do setor de 13% para 10% neste ano, após o cenário de incertezas políticas e da queda das exportações para a Argentina e o México, os dois principais mercados para o Brasil.

A Anfavea, associação que reúne os fabricantes de veículos, também revisou para baixo a sua expectativa da produção neste ano, de 13,2% para 11,9%.

Para as exportações, a previsão da entidade passou de alta de 4,5% para estabilidade sobre o total de 766 mil veículos vendidos para o mercado externo em 2017.

Em junho, a produção de autos teve alta de 21% sobre o mesmo mês do ano passado, segundo dados divulgados na última sexta-feira (dia 6) pela Anfavea. O percentual inclui carros, comerciais leves, caminhões e ônibus.

“O crescimento de junho reflete ainda a orientação feita pelas montadoras no início deste ano, quando a situação era outra. A compra de insumos estava feita, a produção planejada e a confiança do consumidor e dos empresários estava em outro patamar”, diz Silveira.

O nível de expansão visto no mês passado, porém, não deve se manter no segundo semestre, com o aumento das incertezas políticas e econômicas.

“As dúvidas quanto à evolução da taxa de câmbio, dos juros e alta da inflação, para a qual já vínhamos chamando a atenção desde maio, devem arrefecer o crescimento da produção daqui para frente”, afirma o economista.

Para Silveira, a partir do próximo mês os efeitos da greve dos caminhoneiros também devem se mostrar mais significativos nos indicadores do setor. “O dado de julho deve ser decepcionante.”

AQUI X LÁ FORA

O aumento da produção neste ano será sustentado pela venda de carros no mercado interno, uma vez que as exportações no setor estão se enfraquecendo.

As vendas para fora do país em 2018 devem ficar longe dos resultados obtidos em 2017, quando as exportações cresceram 46,4% na comparação com o ano anterior.

Os indicadores do mês passado já dão sinais disso. A queda nas vendas para o exterior foi de 4,4% em junho na comparação com igual mês de 2017.

A Argentina, maior mercado de veículos brasileiros, elevou os juros básicos da economia para 40% no início de maio, o que encareceu o financiamento e impactou diretamente na decisão de compra do consumidor.

Os efeitos já estão sendo computados. No país vizinho, as vendas internas de veículos desabaram 31% em junho na comparação com o mesmo mês de 2017, de acordo com a Adefa, associação que reúne as montadoras argentinas.

Sete em cada dez veículos vendidos para fora hoje são destinados para o mercado argentino.

“Apesar de o câmbio no Brasil estar valorizado, o que aumenta a competitividade da indústria exportadora, a economia da América Latina está perdendo dinamismo, atingindo diretamente as vendas de carros brasileiros”, afirma Silveira.

O México, segundo maior mercado para o Brasil, teve redução de 6% nas vendas em junho sobre igual mês de 2017 e de 8,4% no acumulado deste ano, de acordo com a Amia, associação das montadoras mexicanas.

PREÇOS EM ALTA

Para Fabio Silveira,  2019 não será ainda o ano de retomada das vendas internas e externas em patamares maiores. O crescimento mais vigoroso só deve acontecer mesmo em 2020.

“A taxa de câmbio mais elevada vai encarecer os insumos e afetar diretamente o preço dos veículos, desestimulando e postergando a compra no mercado interno”, diz.

Essa tendência de encarecimento do preço do carro, associada ao clima de menor confiança do consumidor e ao crédito menos aquecido, vai desacelerar ainda mais as vendas no próximo ano, explica o sócio-diretor da MacroSector.

Com isso, a  previsão para 2019 é o setor crescer entre 7% e 8%, de dois a três pontos percentuais abaixo da expectativa para 2018 (10%).

VENDAS INTERNAS

A venda de carros em junho chegou a  201.987 unidades, o que representa alta de 3,7% em relação a junho de 2017, quando 194.796 unidades foram comercializadas, segundo dados da Fenabrave, a federação que reúne os revendedores de veículos.

Em relação ao mês de maio, as vendas ficaram estáveis. O setor ainda deve demorar para recuperar as perdas de 2016 e 2015, ano em que o desemprego aumentou, a renda caiu e muitas concessionárias fecharam as portas.

Um balanço divulgado pela Fenabrave mostra que nos últimos quatro anos a rede de concessionárias brasileira enxugou de 7.330 pontos para 6.056. Foram fechadas 1.890 revendas e abertas 616 novas concessionárias, o que representa saldo negativo de 1.274 lojas.