Bayer e Monsanto: concentração e investimentos

Fabio Silveira ¹
Francisco Cunha ²

As reais consequências da aquisição da Monsanto pela Bayer para produtores e consumidores ainda não estão claras, e vai levar algum tempo para serem avaliadas em todos os seus aspectos. Por enquanto, ainda são preliminares – e até divergentes – as impressões possíveis acerca da compra da gigante de sementes norte-americana Monsanto pela companhia de produtos químicos e saúde, a alemã Bayer, por US$ 66 bilhões.

Por um lado, a maior concentração da oferta desses insumos pode preocupar, pois eleva o risco de oligopolização e de aumento do custo rural. Mas, por outro lado, uma operação dessa envergadura financeira tende a resultar no incremento de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Isto favorece o surgimento de sementes mais produtivas e agroquímicos mais eficientes no controle de pragas, permitindo, assim, a ampliação da produtividade e o barateamento do custo de produção agrícola.
O negócio – que chegou a ser chamado pelos opositores de “casamento dos infernos” -, anunciado na semana passada, ainda terá de ser aprovado pelos órgãos de defesa da concorrência em todos os países nos quais as duas gigantes atuam. No caso do Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O acordo prevê multa de US$ 2 bilhões para a Bayer desistir da aquisição, se a união com a Monsanto for rejeitada em algum mercado relevante.
Embora tenha impressionado pelo tamanho das duas empresas envolvidas, criando a maior grupo de sementes e agroquímicos do mundo, a compra da Monsanto pela Bayer é o ápice de um movimento iniciado, inclusive no Brasil, há algum tempo, por médias e pequenas companhias do setor.
Em fevereiro de 2015, o fundo de investimentos Platform Specialty Products Corporation adquiriu a japonesa Arysta Life Science, que tem presença marcante no Brasil no mercado de defensivos para hortifrugranjeiros. Esta foi a terceira aquisição da Platform em agroquímicos, após o Grupo Agriphar, em outubro de 2014; e a Chemtura AgroSolutions, em novembro de 2014. No mesmo ano, outra global, a norte-americana FMC Corporation comprou a Cheminova, de origem dinamarquesa, que atuava na área de genéricos de defensivos agrícolas.
Entre as gigantes do setor, a tendência de união começou no ano passado, quando a Monsanto tentou, sem sucesso, adquirir a suíça Syngenta. Esse movimento teve várias consequências. Alguns meses depois, as americanas Dow Chemical e DuPont anunciaram a fusão, que deve se concretizar em 2017, formando um grupo de US$ 130 bilhões; e os chineses levaram a Syngenta por 43 bilhões de euros. Desse modo, a Monsanto ficou solteira no baile e era até natural que fosse cobiçada pela Bayer. Esses três grupos, com olho no futuro, detêm cerca de 70% do mercado mundial de produtos agroquímicos.
Motivos para a fusão ou aquisição dessas empresas existem de sobra. A começar por uma característica histórica do capitalismo: o esforço de realização de economia de escala visando elevar a rentabilidade. O segundo motivo é a complementaridade. Enquanto a Monsanto tem força e liderança na biotecnologia, especialmente em sementes e eventos transgênicos, mas detendo apenas o Gliphosato como mais importante princípio ativo, acaba sendo procurada pela Bayer, que tem situação totalmente inversa e complementar á Monsanto. Ou seja, é mais forte na química, mas atrasada na biotecnologia.
De 2008 a 2013, estima-se que o mercado internacional de sementes geneticamente modificadas (OGM) dobrou seu faturamento, enquanto o mercado de agroquímicos só avançou 25% no mesmo período.
O regionalismo é outro motivo da aliança entre Bayer e Monsanto. A primeira lidera na Europa e particularmente na Alemanha, enquanto o mesmo ocorre com a Monsanto nos Estados Unidos. Cabe lembrar que a Europa importa comida, enquanto as Américas são grandes exportadoras de alimentos e carnes.
De forma geral, a Europa é bastante conservadora e reticente à inovação e aos transgênicos, usando o princípio de análise de perigo, ao inverso dos EUA, onde prevalece a análise de risco. Por exemplo, nos últimos anos, a BASF retirou seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento e levou-os para os EUA, onde avanços tecnológicos e inovações são bem-vindos.
Por fim, ao se juntar com a Bayer, a Monsanto ganha em imagem. A Bayer é reconhecida junto à opinião pública mundial como empresa farmacêutica: basta lembrar a aspirina e a tradicional assinatura/slogan – Se é Bayer é bom !! …. Já a Monsanto tem imagem focada somente em agribusiness e, apesar de seu esforço internacional em comunicação, enfrenta muitas polêmicas em decorrência da aposta nos transgênicos.
Por essas razões, a concentração nesse mercado deve continuar. A alemã BASF provavelmente vai querer comprar alguém, ou será comprada.
 
[1] Sócio-Diretor da MacroSector Consultores
[2] Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ-USP. Especialista em fertilizantes.