Banco Central desdenhou mercados de commodities

Preços de várias matérias-primas cederam fortemente.
Por: Fabio Silveira
 
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A política monetária adotada pelo Banco Central desde o quarto trimestre de 2016 mostrou-se demasiadamente restritiva, afugentando investidores e empresários que cogitassem injetar recursos na economia brasileira.

Em função do contínuo erro de leitura das curvas futuras de preços, principalmente internacionais, a Autoridade Monetária brasileira rendeu-se à persistente prática de juros superelevados, que ajudaram a solapar – e muito – a força de inúmeros agentes econômicos, dos mais diversos setores. E só não afetaram negativamente o agronegócio – sustentáculo do crescimento do primeiro trimestre do ano – porque este conta com crédito a juros menores.

Em dezembro do ano passado, o Banco Central “aceitava” a expectativa do mercado de que a inflação brasileira, em 2017, situar-se-ia ao redor de 4,8%, superando moderadamente o centro da meta (4,5%). Diante disso, “devolvia um sinal” de que haveria a vigência de uma taxa Selic da ordem 10% a.a. no fechamento do exercício seguinte. Naquela época, a taxa de câmbio situava-se em, aproximadamente, R$ 3,35 / US$.

Hoje, sete meses após a veiculação de tais vaticínios (e estando em vigor uma taxa cambial muito parelha a dezembro), prevê-se para o término do ano em curso que: a) o IPCA apresentará acréscimo de apenas 3,2%, depois de registrar, em junho, deflação de 0,23%; e b) os juros básicos tendem a aproximar do patamar de 8,5% a.a. Em outras palavras, os juros reais, infelizmente, seguem pouco convidativos para os investimentos.

Diante desses fatos, é inevitável a conclusão de que houve falha de diagnóstico e prognóstico dos policy makers tupiniquins. Pela qual, a economia brasileira está pagando um preço elevado, pois acentuou o ciclo recessivo e espalhou deflação pelo país afora nos últimos meses.

O grande pecado foi desprezar os sinais disponíveis nas bolsas internacionais de futuros de commodities, deixando de incorporar, nos mapas prospectivos dos preços domésticos, acontecimentos que lá, então, se desenrolavam. No quarto trimestre de 2016, já era de amplo conhecimento que os juros americanos subiriam (ainda que modestamente), exercendo pressão baixista sobre os preços das matérias-primas.

O levantamento é incontestável. Entre dezembro-16 e junho-17, a cotação externa do:

a) Petróleo Brent diminuiu 13%, indo para US$ 48 / barril;

b) Soja em grão caiu 9%, para US$ 9,20 / bushel;

c) Açúcar recuou 28%, para US$c 13,5 / lb;

d) Café baixou 10%, para US$c 124 / lb; e

e) Estanho declinou 6%, para US$ 19,7 mil / t.

A marcha de rebaixamento global de preços de inúmeras commodities foi pouco considerada pela nossa Autoridade Monetária. Como consequência, os preços de várias cadeias produtivas, atreladas direta ou indiretamente a esses produtos, sofreram quedas acentuadas no primeiro semestre, pois já tinham sido, de antemão, estranguladas pela retração de demanda de empresas e famílias em 2015 e 2016.

Além disso, subestimou-se o efeito da recessão doméstica sobre o preço dos serviços. Outrora vilão de uma inflação que chegou a atingir dois dígitos, a fragilização do mercado de trabalho e da renda, bem como a restrição aos canais de crédito, promoveu o “derretimento” dos preços do setor terciário. Tampouco o Banco Central antecipou tal fenômeno.

Preços que emitem sinais persistentes de fraqueza espantam empresários e investidores, pois denotam que a rentabilidade de seus respectivos setores é pouco atrativa. Agora, esses agentes aguardam melhor momento para injetar recursos na trôpega e maltratada economia brasileira. Que, como tal, não se pode dar ao luxo de cometer um erro desse tamanho.

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